O texto entre aspas foi extraído de
Eclesiastes cap. 1.14 “atentai as obras
que fazem debaixo do sol, e eis que tudo é vaidade é correr atrás do vento”.
Sem chegar ao extremo de afirmar que
Salomão foi o primeiro filosofo existencialista, pois a corrente de pensamento filosófico
denominada de existencialismo, é algo dos tempos modernos, não posso deixar de
admitir que o texto de Eclesiastes é produto de uma profunda reflexão sobre a
vida, a existência dos seres humanos “DEBAIXO DO SOL”. Atentemos para as
expressões “DEBAIXO DO SOL”; “ATENTAI” e “TUDO É VAIDADE”. O sábio Salomão se
propõe em fazer uma analise vertical da vida, a existência que acontece a
partir de um processo autônomo, isto é, ele olha para vida que acontece sem o
referencial divino.
O texto já inicia pela conclusão, a síntese de
sua descoberta "...vaidade de
vaidades! "tudo é vaidade." (cap. 1.2). A palavra vaidade nesse
contexto não está se referindo ao exibicionismo e narcisismo manifestados por
muitos homens, e sim, a ocorrência de uma existência que prescinde da própria
essência do ser, esvaziando-se da divindade do criador. Porque o termo vaidade
aqui significa "vazio", pois
o autor envereda por uma viagem existencial, através da qual ele busca vários
caminhos, tentando em algum deles encontrar um sentido para a vida, isto é,
algo que por si só pudesse dar significado a sua própria existencia humana. Porem, ele
somente conseguirá descobrir que "existem muitos caminhos que parecem
levar a algum lugar, porém, o final deles é a morte" . A vaidade se
configura numa triste realidade, na qual o indivíduo coloca Deus a margem dos
seus projetos existenciais, e se lança numa busca frenética procurando em
diversas situações construir a sua própria felicidade e viver como se não
dependesse de Deus. Todavia, essa busca por realização que acontece de maneira
verticalizada, indiferente a realidade do Deus pessoal, o qual traz em si o significado
de toda existência, e nada pode existir sem Ele, conforme disse o Apóstolo
Paulo aos atenienses "Nele nós existimos e nele nos movemos" . Tentar
encontrar o sentido da vida em uma realidade não centrada em Deus é o mesmo que
empreender uma CORRIDA ATRÁS DO VENTO, na qual o indivíduo nunca atingirá sua
meta, pelo contrário ficará sempre mais distante de encontrar o que busca.
Salomão mergulha nesse mar da existência humana
tentando descobrir se haveria alguma realização centrada exclusivamente no Ser
e nada mais, que pudesse lhe proporcionar o real significado de existir
"debaixo do sol", isto é, aqui neste mundo. No capítulo 2 podemos
observar os diversos caminhos escolhidos por ele.
O primeiro deles diríamos que tem a ver com o
estilo "life party", a vida é só festa, são os bares e as boites nos
finais de semana, clubes, os carnavais e todas as festas de época e fora de
época. Todavia, depois de desfrutar toda essa euforia descomprometida, ele se
vê completamente vazio, não descobre nenhum sentido nisso tudo, e por isso ele
conclui "não passa de vaidade" (cap 2.1-2).
Na segunda tentativa ele resolve busca a
realização tornando-se um grande empreendedor: construiu casas, plantou vinhas,
construiu açudes. Tornou-se um empresário obcecado, megalomaníaco. Também não
foi dessa vez que encontrou a felicidade. Sendo assim, prossegue na sua busca
frenética, resolve ser um especulador do mercado financeiro (cap 2.8), amontoou
ouro e prata. Até ai permanece insatisfeito.
Depois disto ele envolveu-se com o mundo artístico,
relacionou-se com os famosos da arte e da música. Pois ele diz que se proveu de
cantores e cantoras, que freqüentavam a sua casa. Isto também não lhe trousse
sossego, o que lhe fez ir busca de mais um caminho e finalmente enveredou pelo
sexo livre, no amor livre, amou muitas mulheres (cap. 2.8). Casou, descasou,
teve casos e amizades coloridas. De todas essas experiências ficaram a
frustração, pois nenhum empreendimento humano por si só pode dar sentido a
vida.
Como disse o famoso escritor russo, Dostoievski:
"existe um vazio no coração humano do tamanho de Deus", isso colabora
com o nosso pensamento que qualquer projeto de vida indiferente ao referencial
de Deus, não passará de fadiga e vaidade que se expressará através da angustia
e inquietação.
O renomado filósofo existencialista, o francês
Jean Paul Satre no seu livro "A náusea", concebe o mundo como um
absurdo, e a vida como um processo do acaso em todos os sentidos. Satre
defendia que os seres humanos precisavam dar um sentido a própria vida.
Infelizmente o existencialismo de Satre parou no cap. 2 de Eclesiastes e por
isso ele foi mais um ser humano que com todo o seu potencial passou toda sua
existência CORRENDO ATRÁS DO VENTO, sem nunca conseguir alcançar a sua meta, “descobrir
o significado da própria existência”, e ele resume a sua frustração no título
da obra mais famosa "O Ser e Nada".
Confesso que ao estudar um pouco sobre a
filosofia existencialista fiquei mais seguro acerca da minha fé em Jesus
Cristo, pois mesmo não aderindo a fé em Deus os existencialistas ao revelarem a
frustração por encontrarem as respostas para o sentido da vida, nos provam por
antítese, que estas respostas só podem ser encontradas na palavra de Deus. E
isso ocorre quando o ser humano tem um encontro com o seu Criador por meio de
Jesus Cristo, o qual veio para dar vida abundante, vida com propósito, vida que
tem um significado e uma direção certa, DEUS.